Biografia de Mário de Sá-Carneiro:


Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) foi um poeta português da primeira Geração Modernista, também conhecida como "Geração do Orpheu". Sua obra ocupa lugar de destaque na literatura portuguesa.


Infância e Juventude:


Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 19 de maio de 1890. Filho de um engenheiro, ficou órfão de mãe com dois anos de idade e teve uma infância difícil. Foi entregue aos cuidados dos avós sendo criado na Quinta da Vitória, na freguesia de Camarate, nos arredores de Lisboa.


Em 1900, Mário de Sá-Carneiro ingressou no Liceu de Lisboa, época em que começou a escrever suas primeiras poesias. Em 1905 redigiu e imprimiu o jornal satírico “O Chinó”. Em 1908 colaborou com pequenos contos na revista Azulejos.


Em 1910 escreveu, em colaboração com Thomas Cabreira Júnior (que viria a se suicidar no ano seguinte), a peça “Amizade”. Sentido com a morte do amigo, dedicou-lhe o poema “A Um Suicida”:


Tu crias em ti mesmo e eras corajoso,

Tu tinhas ideais e tinhas confiança,

Oh! quantas vezes desesp'rançoso,

Não invejei a tua esp'rança!


Dizia para mim: — Aquele há-de vencer

Aquele há-de colar a boca sequiosa

Nuns lábios cor-de-rosa

Que eu nunca beijarei, que me farão morrer. (...)


Em 1911, Mário de Sá-Carneiro foi para Coimbra e matriculou-se na Faculdade de Direito, mas interrompeu os estudos. Em 1912 iniciou sua amizade com Fernando Pessoa. Nesse mesmo ano, com o apoio financeiro do pai, foi para Paris e matriculou-se na Faculdade de Direito. Nessa época, publicou um livro de contos intitulado “Princípio”.


Carreira Literária:


Em 1914, no começo da Primeira Guerra Mundial, Mário de Sá-Carneiro voltou para Lisboa e juntou-se a Fernando Pessoa para colaborar com a revista “Orpheu” que tinha o objetivo de divulgar os novos ideais estéticos, procurando acompanhar as transformações culturais ocorridas em toda a Europa.


Ainda em 1914, Mário de Sá-Carneiro publicou duas obras: o livro de poemas, “Dispersão” e a novela “Confissões de Lúcio”. Viveu um tempo de grande euforia em torno do início do Movimento Modernista português.


Em abril de 1915 foi lançado o primeiro número da revista Orpheu. No final de 1915, Sá-Carneiro publicou o livro de contos “Céu em Fogo”. Em julho saiu o segundo número da revista.


Depois que retornou a Paris, a vida de Mário de Sá-Carneiro mudou radicalmente, após seu pai entrar em falência e cortar a mesada que o sustentava.


Além da dificuldade financeira e da crise geral que todos passavam, Mário de Sá-Carneiro chegou a pensar em suicídio, possibilidade que comentara com os amigos, inclusive com Fernando Pessoa, com quem se correspondia, porém ninguém lhe deu muito crédito.


Mário de Sá-Carneiro suicidou-se no Hotel de Nice, em Paris, no dia 26 de abril de 1916, com apenas 26 anos.


A Poesia de Mário de Sá Carneiro:


A obra de Mário de Sá-Carneiro ocupa um lugar de destaque na literatura portuguesa, sobretudo pela poesia. Foi um poeta em todos os domínios, até mesmo no teatro e na prosa.


A sensibilidade e o espírito doentio dominava-lhe a criação poética a tal ponto, que em quase todos os versos estampa-se um perene descontentamento com a vida e com o mundo, como no poema “Dispersão”:


Perdi-me dentro de mim

Porque eu era labirinto,

E Hoje, quando me sinto,

E com saudade de mim.


Passei pela minha vida

Um astro doido a sonhar.

Na ânsia de ultrapassar,

nem dei pela minha vida. (...)


Não sinto o espaço que encerro

Nem as linhas que projeto:

Se me olho a um espelho, erro -

Não me acho no que projeto. (...)


Eu tenho pena de mim,

Pobre menino ideal...

Que me faltou afinal?

Um elo? Um rastro?... Ai de mim!... (...)


No poema “Quase”, considerado uma de suas melhores produções, Mário Sá-Carneiro define bem sua crise de personalidade:


Um pouco mais de sol – eu era brasa,

Um pouco mais de azul – eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...


Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído

Num baixo mar enganador de espumas;

E o grande sonho despertado em bruma,

O grande sonho – ó dor! – quase vivido... (...)


De tudo houve um começo... e tudo errou...

- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -

Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,

Asa que se enlaçou, mas não voou... (...)


Obras de Mário Sá-Carneiro

Contos:


Princípio (1912)

Céu em Fogo (1915)

Novela


A Confissão de Lúcio (1914)

Poesia


Dispersão (1914)

Indícios de Oiro (1937)

Teatro


Amizade (1912)


Carta de despedida de Mário de Sá-Carneiro a seu amigo e também poeta Fernando Pessoa:


Meu querido Amigo.


A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3 (ou mesmo na véspera), o seu Mário de

Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estricnina e desaparecerá deste mundo. É assim tal e

qual – mas custa-me tanto a escrever esta carta pelo ridículo que sempre encontrei nas «cartas

de despedida»... Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando: afinal tenho o que quero:

o que tanto sempre quis – e eu, em verdade, já não fazia nada por aqui... Já dera o que tinha

a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma: eu mato-me porque me coloquei pelas circunstâncias –

ou melhor: fui colocado por elas, numa áurea temeridade – numa situação para a qual, a

meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única maneira de fazer o que devo fazer. Vivo

há quinze dias uma vida como sempre sonhei: tive tudo durante eles: realizada a parte

sexual, enfim, da minha obra – vivido o histerismo do seu ópio, as luas zebradas, os

mosqueiros roxos da sua Ilusão. Podia ser feliz mais tempo, tudo me corre, psicologicamente,

às mil maravilhas, mas não tenho dinheiro. [...]


Mário de Sá-Carneiro, carta para Fernando Pessoa, 31 de Março de 1916.


             Júnior Sá.

  Colunista e Historiador.

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