Por Adriana Passari - @adrianapassari

 

O presente

 

Saiu de mais uma reunião de trabalho com a cabeça borbulhando de ideias para os novos projetos, muitas tarefas pendentes para resolver e o prazo não muito extenso para começar a apresentar resultados. Até aí, tudo normal. Rotina. Estava acostumada com a dinâmica do trabalho, o que a deixava totalmente realizada, embora ligeiramente esgotada pelas exigências constantes do cargo. Após a reunião, antes das despedidas de praxe, o representante da empresa parceira lhe chama de lado e entrega um presente. Ela agradece, educada, sem dar muita importância, já imaginando que fosse um brinde promocional qualquer como tantos outros já recebidos. Não que ela desprezasse esses mimos, apenas já estava acostumada a recebê-los. Estava colecionando calendários de mesa, blocos de notas e agendas timbradas. Usava todos. Por gratidão a quem lhe presenteava e porque amava o cheiro de papelaria que acompanhava os brindes. Cheiro de papel novo lembra infância, material escolar e traz uma nostalgia que aquece o coração.

@willian_hussar

Mas não, não era um desses. Já em sua mesa, organizando as tarefas, abriu a embalagem com calma. E foi surpreendida com um livro. Que grata surpresa! O livro continha vários pequenos contos. Como leitora voraz que era, começou a folhear a obra com interesse imediato querendo desfrutar logo daquele presente encantador. Mas o senso de responsabilidade chamou mais alto. Fechou o livro e retomou o trabalho. O livro teria que esperar. Planejou ir pra cama com ele naquela noite. Estava marcado o encontro. Ao fim do expediente, recolheu seus pertences, guardou os óculos, retocou o batom, fechou a bolsa, pegou a pasta e partiu, deixando o precioso presente esquecido em cima da mesa, ao lado do computador. No dia seguinte, de volta ao batente, é surpreendida novamente. Desta vez era a internet que não estava funcionando. Todo seu trabalho travado sem a tecnologia disponível. Os prazos todos apertados. Clientes e chefes pressionando… Então, ela escolheu a paz da leitura. Sentou-se, abriu as primeiras páginas do livro e deleitou-se com os primeiros contos da obra, tranquilamente, esperando o técnico de informática solucionar o dilema do dia. E entendeu, que aquele era mesmo o lugar certo daquele livro.

Ouça a história na voz de Adriana Passari:

 

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