O Etarismo no Mercado Cultural: Uma Discussão Disfarçada de Brincadeiras
Nos últimos anos, tem-se observado uma crescente preocupação com a forma como o envelhecimento é percebido e tratado dentro do mercado cultural. Apesar de parecerem simples brincadeiras ou piadas de bom gosto, muitas dessas manifestações escondem uma problemática mais profunda: o etarismo. Essa forma de discriminação, que se manifesta de maneira sutil e muitas vezes disfarçada, reforça estereótipos prejudiciais e contribui para marginalizar determinadas faixas etárias, especialmente os idosos, dentro do cenário artístico, midiático e de consumo cultural.
O que é o Etarismo?
O etarismo refere-se à discriminação ou preconceito baseado na idade de uma pessoa. Embora frequentemente associado ao envelhecimento, ele pode se manifestar de várias formas, como a desvalorização de artistas mais velhos, a exclusão de produções culturais voltadas para públicos mais maduros ou a representação estereotipada de idosos na mídia. O problema é que, muitas vezes, esse preconceito é mascarado por piadas, comentários irônicos ou brincadeiras que parecem inofensivas, mas que na verdade reforçam uma visão negativa e limitadora sobre as pessoas de idade avançada.
Brincadeiras e Piadas Disfarçadas de Humor
No cotidiano, é comum ouvirmos comentários do tipo “velho chato”, “idoso que não entende de tecnologia” ou “a geração dele já passou”, muitas vezes feitos em tom de brincadeira. Essas expressões, embora possam parecer inofensivas, contribuem para criar uma narrativa de que envelhecer é algo a ser evitado, ridicularizado ou considerado como uma fase de declínio e perda de relevância. No mercado cultural, essa lógica se reflete na ausência de representações reais e respeitosas de idosos em filmes, programas de TV, publicidade e até nas produções artísticas, reforçando a ideia de que o envelhecimento é algo a ser escondido ou desacreditado.
A Invisibilidade do Idoso na Cultura Popular
Historicamente, o mercado cultural muitas vezes ignora ou marginaliza os idosos, seja na música, no cinema, na televisão ou nas artes visuais. Quando presentes, eles costumam ser retratados de forma caricata ou estereotipada, reforçando a ideia de que a cultura é um espaço exclusivo para os mais jovens. Essa invisibilidade contribui para a desvalorização do conhecimento, da experiência e da sabedoria que os idosos podem oferecer, além de dificultar a construção de uma sociedade mais plural e respeitosa.
Consequências do Etarismo Disfarçado
As consequências dessa discriminação disfarçada vão além do aspecto simbólico. Elas impactam diretamente na autoestima e na qualidade de vida dos idosos, que podem se sentir excluídos, invisibilizados ou desvalorizados. Além disso, perpetuam uma cultura de desrespeito e intolerância, dificultando a construção de uma sociedade mais inclusiva e diversa. No mercado cultural, essa postura limita a diversidade de vozes e experiências, restringindo o potencial de inovação e enriquecimento cultural.
Reflexões e Caminhos para a Mudança
Para combater o etarismo disfarçado, é fundamental promover uma reflexão crítica sobre as nossas próprias atitudes e percepções. O mercado cultural deve valorizar a diversidade etária, incluindo pessoas de diferentes idades em seus projetos, respeitando e celebrando suas experiências e contribuições. Além disso, é necessário desconstruir estereótipos por meio de campanhas educativas, produções culturais que retratem a pluralidade de envelhecer e uma legislação que proteja os direitos dos idosos.
A representatividade autêntica e respeitosa é um passo crucial para mudar essa narrativa. Produzir conteúdos que abordem o envelhecimento de forma positiva, realista e sem estereótipos ajuda a desconstruir a ideia de que a velhice é uma fase de decadência. Celebrar a experiência, a sabedoria e a presença ativa dos idosos na cultura é uma forma de valorizar a diversidade humana em todas as suas fases.
O etarismo disfarçado de brincadeiras e piadas é uma manifestação sutil, mas poderosa, de uma cultura que ainda precisa evoluir para reconhecer e valorizar a diversidade etária. Desafiar essas percepções, promover uma representação mais justa e inclusiva dos idosos no mercado cultural e incentivar diálogos críticos são passos essenciais para uma sociedade mais justa, plural e respeitosa. Afinal, envelhecer não é sinônimo de obsolescência, mas sim de uma fase rica em experiências, histórias e contribuições que merecem ser celebradas e reconhecidas.
Legendada foto: "Quando a noite chegar" aborda o etarismo e a finitude
O espetáculo traz provocações sobre continuidade e descontinuidade, sobre o efêmero e o eterno, sobre o que dura e aquilo que nos escapa entre os dedos.