Piracicaba consolida vocação cervejeira e amplia roteiro turístico com microcervejarias
Piracicaba vive um momento de afirmação no mapa cervejeiro paulista. Com uma cena artesanal que cresce ano após ano, a cidade já reúne nove cervejarias com fábrica própria em plena operação — Ampere, A Tutta Birra, Cevada Pura, Dama Bier, Em Nome do Malte, Green Fish, Peixe Para, Sacramenta e Stella Alpina (essas duas últimas instaladas no histórico bairro de Santa Olímpia) — formando um polo cervejeiro que combina tradição, inovação e experiências aos visitantes.
O movimento não se limita às marcas já estabelecidas. A cidade aguarda a chegada da Bissurda, que está em fase de instalação de sua fábrica e promete ampliar ainda mais a diversidade de rótulos locais. Outras marcas, como Komtainer Beer, Nhô Quim e Sexto Sentido, que operam na modalidade cigana, seguem fortalecendo a cena ao produzirem seus rótulos dentro da estrutura da Panela Cervejeira, modelo que impulsiona novos produtores e facilita o acesso ao mercado. Somam-se a elas as cervejarias ciganas Escafandrista e Vibeer, que também contribuem para a criatividade e variedade do setor.
O entorno regional reforça o ecossistema cervejeiro. A HZB, fabricada em São Pedro, mantém um bar e parte de sua distribuição em Piracicaba, integrando-se naturalmente ao circuito local. Já a Hop Flyers, segunda marca da Cevada Pura, amplia o portfólio da tradicional cervejaria piracicabana. E, mesmo tendo transferido sua fábrica para Itupeva, a Leuven continua presente na cidade por meio de seu pub no histórico e turístico bairro Monte Alegre, o que preserva sua ligação com o público piracicabano.
Esse conjunto de iniciativas coloca Piracicaba em evidência como um destino emergente para amantes da cerveja artesanal. As microcervejarias, muitas delas abertas ao público, vêm se tornando pontos de encontro, espaços culturais e atrativos turísticos que movimentam diferentes áreas da economia criativa — da gastronomia aos eventos temáticos, dos tours guiados às experiências sensoriais.
Embora o setor não represente uma grande indústria em termos de escala ou de geração de empregos diretos, seu impacto é crescente. Cada nova cervejaria amplia a visibilidade da cidade, estimula o empreendedorismo e cria um ambiente fértil para festivais, rotas turísticas e ações de valorização da produção local.
Piracicaba, conhecida historicamente por sua forte relação com o setor sucroenergético e com o agronegócio, agora também se destaca como um território de sabores, talentos e inovação no universo cervejeiro. E tudo indica que essa vocação continuará se fortalecendo, tornando a cidade um ponto obrigatório para quem busca diversidade, qualidade e autenticidade no copo.
Além da expansão das marcas e da qualificação dos espaços de consumo, Piracicaba começa a estruturar mecanismos próprios de governança e inteligência setorial voltados ao fortalecimento da cadeia cervejeira.
Nesse contexto, destaca-se a Cadeia Produtiva Local da Indústria de Máquinas, Equipamentos e Serviços para Cervejarias (CPLCERVA), um projeto de inovação de alcance nacional, concebido, incubado e coordenado pelo SIMESPI, que tem assumido a liderança na construção de uma visão de futuro para o setor.
Atuando de forma integrada do campo ao copo, a CPLCERVA articula fabricantes de máquinas, equipamentos e serviços industriais para cervejarias, produtores rurais, microcervejarias, desenvolvedores de tecnologia, fornecedores de insumos, serviços especializados, cervejeiros caseiros e instituições de ensino e pesquisa, criando um ambiente propício ao surgimento de soluções industriais, processos avançados e experiências turísticas vinculadas à cultura cervejeira. Ao mapear oportunidades, difundir boas práticas e promover conexões estratégicas entre diferentes elos da cadeia, o projeto consolida as bases para um ecossistema mais maduro, inovador e competitivo, capaz de sustentar o crescimento do setor e ampliar sua relevância no contexto econômico regional e nacional.
Marcelo Basso é guia de turismo e idealizador da Rota Cervejeira de Piracicaba