A dívida pública brasileira e os desafios do equilíbrio
fiscal
Ronaldo Castilho
A
notícia do aumento de 1,85% na dívida pública brasileira em novembro,
influenciada pelo nível alto de juros, superou a marca de R$ 7,2 trilhões,
números divulgados pelo Tesouro Nacional. A DPF passou de R$ 7,073 trilhões em
outubro para R$ 7,204 trilhões no mês passado reacendendo o debate sobre a
sustentabilidade fiscal e os caminhos econômicos que o país deve trilhar para
garantir um futuro mais estável. Este aumento reflete tanto as dificuldades
inerentes ao atual cenário econômico global quanto as escolhas políticas e
administrativas feitas internamente.
É
importante compreender que a dívida pública, em si, não é necessariamente um
problema. Governos em todo o mundo utilizam o endividamento como ferramenta
para financiar investimentos em infraestrutura, saúde, educação e outras áreas
essenciais. No entanto, o que diferencia um uso saudável da dívida de uma
trajetória preocupante é a relação entre o endividamento e a capacidade do país
de arcar com ele sem comprometer seu desenvolvimento econômico.
No
caso brasileiro, o aumento contínuo da dívida pública vem em um momento
delicado, marcado por juros elevados, baixo crescimento econômico e alta carga
tributária. Esses fatores criam um ambiente desafiador para o equilíbrio
fiscal. Por um lado, os juros altos aumentam o custo de rolagem da dívida,
pressionando ainda mais o orçamento público. Por outro, o baixo crescimento
limita a arrecadação tributária e dificulta o ajuste fiscal, mesmo diante de
esforços para controlar despesas.
O
controle da dívida pública requer uma combinação de disciplina fiscal e
políticas que fomentem o crescimento econômico sustentável. Isso significa não
apenas cortar gastos desnecessários, mas também priorizar investimentos que
gerem retornos econômicos e sociais. Reformas estruturais, como a tributária e
a administrativa, são indispensáveis para modernizar o Estado, reduzir
ineficiências e criar um ambiente mais propício ao desenvolvimento.
Além
disso, é crucial que o governo mantenha transparência e responsabilidade na
gestão da dívida pública. Medidas como a emissão de títulos para cobrir
déficits precisam ser acompanhadas de um plano claro de recuperação fiscal. Sem
isso, o risco é entrar em um ciclo vicioso de aumento da dívida, perda de
confiança dos investidores e agravamento das condições econômicas.
A
recente alta na dívida pública deve servir como um alerta para que se
intensifiquem os esforços em direção a uma política fiscal mais equilibrada. O
desafio está em encontrar um ponto de convergência entre austeridade e
investimento, garantindo que o ajuste fiscal não seja feito à custa do
bem-estar social e do crescimento econômico.
A
história econômica do Brasil mostra que momentos de crise também podem ser
oportunidades para mudanças estruturais. Agora, mais do que nunca, é hora de
transformar o aumento da dívida pública em um catalisador para reformas
corajosas e necessárias. Somente assim será possível construir uma economia
mais robusta, capaz de suportar choques futuros e oferecer prosperidade às
próximas gerações.
A
dívida pública é um tema amplamente abordado por pensadores econômicos e
filósofos ao longo da história, com perspectivas variadas dependendo do
contexto histórico, das teorias econômicas e das visões de mundo de cada autor.
No
clássico A Riqueza das Nações, Adam Smith alertava sobre os perigos de um
endividamento excessivo. Ele via a dívida pública como um instrumento útil em
situações excepcionais, como guerras, mas enfatizava que sua expansão contínua
poderia ser prejudicial à economia. Para ele, a acumulação de dívidas sem a
devida capacidade de pagamento era um risco para a soberania e a estabilidade
do Estado.
John
Maynard Keynes ofereceu uma visão mais pragmática sobre a dívida pública,
especialmente em períodos de recessão. Ele argumentava que, em momentos de
crise econômica, o endividamento estatal era essencial para estimular a demanda
agregada, gerar empregos e evitar colapsos econômicos. Keynes considerava que a
dívida poderia ser gerida no longo prazo, desde que os gastos públicos fossem
direcionados para áreas produtivas e que o crescimento econômico superasse o
custo do endividamento.
Em
O Capital no Século XXI, Thomas Piketty discute a relação entre dívida pública
e desigualdade. Ele argumenta que, em muitos casos, a dívida pública beneficia
os detentores de riqueza, pois os juros pagos sobre os títulos da dívida se
tornam uma fonte de renda para as elites. Piketty sugere políticas fiscais mais
progressivas e redistributivas para equilibrar o impacto da dívida pública e
reduzir as desigualdades sociais.
Friedrich
Hayek, defensor do liberalismo econômico, era crítico ao uso excessivo da
dívida pública. Ele acreditava que o endividamento governamental poderia levar
a intervenções excessivas na economia, distorcendo os mercados e minando a
liberdade individual. Para Hayek, o equilíbrio fiscal era crucial para
preservar a estabilidade econômica e a ordem social.
Embora
não tenha abordado diretamente a dívida pública nos moldes modernos, John Locke
contribuiu para a ideia de que a responsabilidade fiscal era um elemento
crucial para a legitimidade do governo. Ele acreditava que o governo deveria
administrar os recursos públicos com prudência e parcimônia, respeitando os
direitos dos cidadãos.
Ronaldo Castilho é jornalista e bacharel em Teologia e Ciência Política, com MBA em Gestão Pública com Ênfase em Cidades Inteligentes