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Crédito: André Covolam
A
possível sobretaxação de 25% das importações de aço nos Estados Unidos,
anunciada pelo presidente Donald Trump, tem gerado preocupação na indústria
global, e especialistas analisam os impactos dessa medida tanto para a economia
americana quanto para o Brasil. A economista Cristiane Feltre, professora e
pesquisadora do Observatório da Região Metropolitana de Piracicaba, destaca que
o aço é insubstituível em diversos setores, como a indústria automotiva e a
construção civil, além de ser essencial para a infraestrutura energética e de
exploração de petróleo e gás. Ela ressalta que a medida pode encarecer custos
de produção nos Estados Unidos, impactando vários segmentos e aumentando o
custo de vida da população.
Segundo
a economista, o Brasil está entre os principais fornecedores de aço para os
Estados Unidos, ao lado de Canadá, México, Coreia do Sul e Japão. “No entanto,
na Região Metropolitana de Piracicaba, apenas 5% do aço exportado tem como
destino os EUA. Os principais compradores do aço produzido na região são Peru,
Bolívia e Países Baixos, o que reduz um impacto direto na economia local, ainda
que o Brasil como um todo possa sentir os efeitos da sobretaxação”, pontua. A
economista faz uma ressalva: “A ArcelorMittal, uma das maiores produtoras de
aço do mundo e com usina em Piracicaba, não tem seus dados de produção
contabilizados em razão de seu domicílio fiscal não estar no município”.
O
economista Carlos Eduardo de Freitas Vian, professor da Esalq/USP, reforça a
análise ao destacar que a China domina a produção global de aço, com mais de
50% do total produzido no mundo, seguida pela Índia, com 8%. Esses países
também têm as maiores empresas do mundo. Ele explica que, embora os EUA
importem aço chinês, a maior parte vem de países como o Canadá e o Brasil, que
exportam aço semiacabado. “A imposição de tarifas protecionistas pode favorecer
a indústria siderúrgica americana, mas, ao mesmo tempo, elevar custos para
diversos setores consumidores de aço, como a indústria de peças, a indústria
automotiva e a construção civil”, diz.
Para
o Brasil, a sobretaxação poderia dificultar a competitividade das exportações
de aço para os EUA e pressionar a indústria siderúrgica nacional a buscar novos
mercados. O economista alerta para a necessidade de monitorar os
desdobramentos da política comercial americana e seus reflexos na economia
brasileira. "Tudo é muito recente ainda e podem ocorrer reviravoltas como
no primeiro governo Trump, em que houve negociação de cotas”, finaliza.
AJUSTES
NA PRODUÇÃO
Na
avaliação do presidente do Simespi (sindicato patronal das indústrias do setor
metalmecânico de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras) a sobretaxação imposta
pelos Estados Unidos ao aço importado não é uma medida direcionada ao Brasil,
mas ao mercado global, refletindo a baixa competitividade da indústria
siderúrgica americana. “Como consequência, os preços do aço nos EUA devem
subir, afetando setores como o automotivo e de equipamentos. Já os países
exportadores, incluindo o Brasil, podem enfrentar queda na demanda e
necessidade de ajuste na produção”, explica.
Ele
afirma que, no Brasil, a resposta das usinas será o desligamento de fornos para
controlar a oferta e evitar a desvalorização do aço no mercado interno. “No
entanto, a reativação desses equipamentos é demorada, podendo gerar
instabilidade nos preços. Além disso, a economia brasileira já enfrenta
desafios como juros elevados e baixa demanda por investimentos, o que agrava o
cenário para a indústria”, justifica. Erick Gomes também sugere que o Brasil
poderia adotar medidas de retaliação, como taxar a exportação de minério de
ferro para os EUA, reduzindo sua capacidade produtiva de aço.