As Senhoras da América Portuguesa : 


O Registro das primeiras mulheres portuguesas a viverem no Brasil é de 1535 e 1537, durante a colonização de Pernambuco, com a vinda de Dona Brites de Albuquerque e em São Vicente , por iniciativa de Martim Afonso de Souza. 


Em sua maioria, mulheres jovens chegavam em grupos familiares. Para a Coroa, o importante era que o povoamento estivesse sendo feito, de modo que assegurasse a presença portuguesa na América, com a formação de núcleos familiares estabelecidos. 


O pedido de sesmarias por mulheres, também está relacionado com o aumento do patrimônio familiar: Segundo o Código Filipino, cada membro do casal tinha direito à metade dos bens. Logo, quando uma mulher solicitava uma sesmaria, a terra requerida diretamente aumentava o patrimônio familiar.


Essas mulheres portuguesas, chegaram a participar da administração das capitanias. A esposa de Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, também se destacou. Brites Mendes de Albuquerque assumiu o governo da capitania mais rica do Brasil, após a morte do marido entre 1553 a 1560.


Ana Pimental foi administradora da Capitania de São Vicente, entre 1534 e 1544, por procuração do seu esposo Martim Afonso de Sousa, o donatário da capitania.


Alfabetizada cedo, logo subiu ao cargo de "procuradora", em 1544, depois que seu marido tornou-se governador da Índia. E a Condessa de Vimieiro, Mariana de Sousa Guerra, sucedeu seu pai como donatária nas proximidades de São Vicente, entre 1621 e 1625.


Dona Brites de Carvalho, assumiu o controle de uma sesmaria no norte da Bahia em 1583, depois da morte de seu marido, financiando as missões Jesuiticas do Padre Cristóvão de Barros e o povoamento de Sergipe. 


Participavam quando necessário de empreitadas militares e do desbravamento do território como Susana Dias, fazendeira e fundadora da cidade de Santana de Parnaíba .


Em 1583 estava o Rio de Janeiro despejado de moradores, que todos os homens validos tinham ido com Salvador Correia, ao sertão. Surgindo no golfo três naus francesas, a esposa do governador, D. Inez de Souza, reuniu às mulheres com seus chapéus nas cabeças, arcos e frechas nas mãos, e começaram a tocar muitas caixas e fazer muitos fogos a noite pela praia, fizeram imaginar aos francêses que era gente para defender a cidade ... 


Das senhoras de São Paulo sabemos que, ao tornarem das Minas os maridos batidos pelos "emboabas", lhes estranharam a frouxidão, exigindo que voltassem a vingar os mortos e castigar os intrusos. 


Nas Minas Gerais, temos o exemplo de Maria da Cruz, rica exploradora de diamantes, Ana Joaquina Perpétuo, proprietária de vários imóveis e minas de ouro, ou Joaquina do Pompéu,proprietária de cerca de 1 milhão de alqueires de terra e pioneira na criação do gado de corte. Ajudou a família real em 1808 e nas batalhas em prol da Independência em 1823.


Após a instalação do engenho, o desbravamento da terra, a conquista do Brasil: reinou na casa-grande um matriarcado próvido. A Senhora de Engenho prevaleceu como efetiva dona da casa. A elas cabia proteger agricultores, agregados e feitores que trabalhassem em suas terras ou com suas canas.


As moças que não contraiam matrimônio eram conduzidas à vida religiosa.


A política régia, entretanto, proibiu, desde cedo, a criação de conventos femininos no Brasil, com o fito de aumentar o número de portugueses e seus descendentes nas possessões ultramarinas da monarquia lusitana. 


Na prática, o veto surtiu pouco efeito, provocando a fuga de jovens para os mosteiros da metrópole. O risco de morte ou rapto devido aos saques promovidos por piratas em alto-mar e o custo financeiro elevado da travessia marítima, alimentaram, todavia, ao longo dos anos, repetidas queixas dos colonos, que demandavam a construção de mosteiros na América portuguesa. A queda de braço com a Coroa perdurou até 1677, ano da fundação do primeiro convento feminino do Brasil: o Convento das Clarissas do Desterro, na Bahia. 


Em 1687 assumiu o serviço de abadessa a primeira brasileira, Irmã Marta de Cristo. Nos dois séculos de existência desta fundação destacaram-se algumas irmãs por seu exemplo de santidade. Entre elas, a Venerável Vitória da Encarnação, baiana, cujo processo de canonização está em andamento. nascida Vitória Bixarxe era filha do Capitão de Infantaria Bartolomeu Nabo Correia e Dona Luísa Bixarxe. Teve um irmão e três irmãs, uma das quais entrou juntamente com ela no convento. Admitida na clausura das monjas clarissas, em Salvador, no ano de 1686, exerceu de forma contínua a caridade, sempre atendeu os pobres e doentes que batiam à porta do convento; foi frequente na oração, na penitência e entregou-se sem reservas à sua vocação. 


A existência de mulheres que escreviam durante o chamado período colonial está comprovada tanto nas referências bibliográficas do século XIX, como nas listas biográficas das "heroínas" ou "mulheres exemplares". "ilustres e virtuosas" do reino, que incluem algumas mulheres das colônias portuguesas.


Ayres de Azevedo, um dos compiladores, se refere por exemplo, a Rita Joana de Souza, a primeira poetisa brasileira, nascida em 1696, na cidade de Olinda, Pernambuco, e faleceu aos 22 anos de idade. Ela é conhecida por ter escrito uma série de poemas e um "Tratado de philosophia natural e Memorias históricas".


A paulista Tereza Margarida da Silva e Orta (1711-1793) irmã de Matias Aires, amiga e companheira intelectual de Alexandre de Gusmão, foi autora de várias obras, entre elas o primeiro romance escrito por um indivíduo brasileiro. O seu Aventuras de Diófanes (1752) mereceu várias edições em Portugal, onde Tereza se educou, escreveu e publicou, algumas vezes sob pseudônimos. Jaime Cortesão considerou o romance à clef de Tereza Margarida uma excepcional "fonte histórica para avaliarmos do ambiente político de Portugal... e da influência de Gusmão sobre o meio" intelectual português dos meados do século. Indica-o ainda, como a única obra de caráter anti-absolutista, publicada na época em Portugal.


Ângela do Amaral Rangel (nascida em 1725) foi a primeira poetisa brasileira a ter um livro publicado e a única mulher a participar da Academia dos Seletos de 1752. 


Beatriz Francisca de Assis Brandão (1779-1868), ilustre poetisa mineira , natural de Vila Rica, era prima de Maria Joaquina Dorotéia de Seixas Brandão (Marília de Dirceu) dedicou-se “à poesia, à prosa e à tradução, assinando seus textos com o pseudônimo 'D. Beatriz'. Voltada para as questões educacionais.


Considerada a primeira jornalista brasileira, Maria Josefa da Fontoura Pereira Pinto (1775-1837) escreveu em 1822 um soneto: "Aos 55 anos do Sr. Dom João VI", que foi publicado no Almanaque de 1867 do doutor César Marques:


"Lá onde o Tejo undoso ufano pisa,

Dos brilhantes lauréis já despojada,

De fúnebre cipreste a fronte ornada,

Lísia envolvida em pranto se divisa.

Na saudade cruel que a penaliza,

Invejosa suspira, consternada,

Quando América assaz afortunada

A glória de João imortaliza.

No seu erguido trono brasileiro,

Fundador de uma nova monarquia,

Qual de Ourique Afonso, Rei primeiro,

Ditando sábias leis, já neste dia

De onde lustros o giro vê inteiro

O grande filho da imortal Maria."


                Júnior Sá.

   Colunista e Historiador.

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