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Comer pouco e não perder peso: o que está por trás desse paradoxo comum

Publicada em: 08/09/2025 10:18 -

 

Por Lícia Mangiavacchi

 

Muitas pessoas enfrentam a frustração de reduzir a alimentação e, mesmo assim, não conseguir emagrecer. Embora o senso comum sugira que comer menos leva automaticamente à perda de peso, a ciência mostra que a realidade é bem mais complexa. Especialistas explicam que diversos fatores fisiológicos, hormonais e comportamentais podem interferir nesse processo.

 

O corpo humano possui mecanismos de adaptação que entram em ação diante da restrição calórica. Após uma fase inicial de emagrecimento, o organismo pode reduzir seu gasto energético, o que dificulta a continuidade da perda de peso. Esse fenômeno, conhecido como adaptação metabólica, é uma resposta do corpo a períodos prolongados de baixa ingestão calórica, funcionando como um modo de sobrevivência. 

 

Segundo dados da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO), mais de 90% das pessoas que conseguem emagrecer acabam recuperando o peso perdido entre um a cinco anos após o término da dieta. Essa estatística reforça o desafio de manter o peso a longo prazo.

Além da resposta fisiológica do organismo, há também uma questão de percepção equivocada sobre o que realmente significa "comer pouco". 

 

Muitos pacientes subestimam a quantidade de alimentos ingeridos ao longo do dia. Pequenos lanches, porções maiores do que o necessário e “beliscos” fora de hora podem facilmente anular o déficit calórico que a pessoa acredita estar criando. Por isso, o acompanhamento com nutricionista e o registro detalhado da alimentação diária são ferramentas importantes para identificar esses erros.

 

A médica de família Dra. Mayara Motta que tem pós graduação em endocrinologia destaca que, quando alguém está se alimentando com menos calorias e ainda assim não emagrece, é fundamental investigar se o corpo entrou em um estado de economia de energia. Ela explica que esse processo reduz a taxa metabólica basal, o que torna mais difícil perder peso. 

 

Além disso, ela chama atenção para a importância da qualidade dos alimentos consumidos. Uma dieta restritiva, porém pobre em nutrientes, pode aumentar a sensação de fome, causar compulsão alimentar e gerar desequilíbrios hormonais, todos fatores que impactam diretamente no controle de peso.

 

Outro ponto relevante mencionado pela médica é o papel do estilo de vida. Dormir mal, viver sob estresse constante e apresentar alterações hormonais como excesso de cortisol ou resistência à insulina podem agravar ainda mais a dificuldade de emagrecimento. Por isso, ela reforça que a perda de peso não deve ser baseada apenas em cortar calorias, mas sim em uma abordagem individualizada que envolva alimentação balanceada, atividade física, sono adequado e equilíbrio emocional.

 

Em resumo, emagrecer não é apenas uma questão de “fechar a boca”. A perda de peso de forma saudável e duradoura exige uma estratégia abrangente, que respeite a individualidade de cada organismo e seja construída com acompanhamento profissional. Comer pouco pode não ser suficiente e, em alguns casos, pode até ser prejudicial, se não for feito com planejamento, qualidade nutricional e suporte médico.

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