Por Adriana Passari - @adrianapassari
A gafe
A moça era boa de lábia. Falava
até pelos cotovelos. Mas era um falar que cativava o ouvinte, sabia conduzir
uma boa conversa. Era da área de vendas, claro. Representante comercial.
Convencia qualquer cliente a
fechar negócio até quando não precisava. Tinha um talento nato.
Dava gosto de ver. Também era bem
apessoada. Quase bonita, bem vestida, elegante, sabia se portar. Um orgulho
para a firma. Cumpria metas como ninguém. Quem caía no seu papo não tinha hora
para acabar e nem percebia o tempo passar. Mas, claro que tinha um porém. Todo
mundo tem. Pra não dizer zero defeito, uma coisinha só se podia falar. A moça
era atabalhoada como ela só.
E pra você acreditar no que eu
digo, uma história eu vou contar. Certa vez a firma, de olho num importante
cliente, difícil de lidar, chamou a Cristina para ajudar. Marcaram com ele um
horário e no seu escritório ela foi encontrar.
Chegou pontualmente no horário, nem antes nem depois. Foi recebida muito educadamente pela secretária que a conduziu até o chefe, Seo Ramon. O homem estava sentado em sua cadeira portentosa, diante da mesa requintada, muito bem organizada e pediu com gesto da mão para a moça sentar. E começaram a prosear.
A conversa fluiu com leveza,
precisa ver que beleza, pareciam dois amigos de longa data. Falaram dos filhos,
de um e do outro, dos netos só dele,
(porque ela ainda não tinha), até dos animais de estimação, dois cachorros dela
e um gato dele. Depois de tomado o segundo cafezinho, era a hora de terminar
também, com sucesso, aquela reunião. O bom vendedor sabe bem a hora de
finalizar. Seu Ramon estava encantado e
ficou convencido da importância da negociação. Estava fechado o negócio, só
faltava o aperto de mão. Seu Ramon pediu respeitoso, se poderia, em vez disso,
dar um abraço afetuoso na nova amiga. Levantou-se de sua cadeira e contornou a
grande mesa vindo em sua direção. Porém, notou ela que ele mancava gravemente
de uma perna. Ficou consternada a pobrezinha e foi logo dizendo ao amigo.
O senhor machucou a perna? Coitado, desejo melhoras, como aconteceu? Não sabia Cristina que Ramon era “manquitola” de nascimento… Quando ele disse a ela, não sabia onde enfiar a cara de vergonha. Desculpou-se e saiu apressada sem olhar para trás. Não teve coragem nem de acertar a venda que já era certeira. Pegou o caminho da rua e voltou para a firma cabisbaixa. Lá chegando foi parabenizada pela chefia que recebera o telefonema de Ramon acertando os detalhes da entrega. Sua gafe teria ficado encoberta para sempre se ela mesma não revelasse, num desabafo, um pouquinho “alterada” depois de um chopinho, a uma colega que caiu na gargalhada, sem pena da coitada.
Ouça a história desta semana na voz de Adriana Passari: