A importância da presença de mulheres na política
Ronaldo Castilho
A
representatividade feminina na política é um tema de grande relevância e
impacto social. Embora as mulheres sejam a maioria da população brasileira,
ainda ocupam uma parcela reduzida dos cargos políticos. Essa desigualdade não é
apenas uma questão numérica, mas reflete um histórico de exclusão e
dificuldades que precisam ser superadas para garantir uma democracia mais justa
e igualitária.
A
presença de mulheres na política vai muito além da equidade de gênero; trata-se
de garantir que as decisões tomadas nos espaços de poder contemplem as reais
necessidades da população como um todo. As mulheres trazem perspectivas únicas
sobre temas como saúde, educação, segurança e assistência social, áreas que
frequentemente impactam suas vidas de maneira mais direta. Sem essa
representatividade, políticas públicas correm o risco de serem formuladas sem
considerar as demandas específicas das mulheres, perpetuando desigualdades
históricas.
Apesar
dos avanços conquistados nas últimas décadas, como cotas partidárias e
incentivos à participação feminina, a política ainda é um ambiente
predominantemente masculino, marcado por desafios como a desvalorização do
trabalho das mulheres, a falta de apoio partidário e, muitas vezes, a violência
política de gênero. Muitas candidatas enfrentam dificuldades para obter
financiamento e visibilidade em campanhas eleitorais, o que reduz suas chances
de serem eleitas. Além disso, quando conseguem ocupar cargos públicos,
frequentemente são alvo de ataques que questionam sua competência, algo que
raramente ocorre com políticos homens.
A
sub-representação feminina na política não é um problema exclusivo do Brasil.
Em diversos países, as mulheres ainda lutam para conquistar mais espaços nos
parlamentos e nos governos. No entanto, exemplos internacionais mostram que
sociedades com maior equilíbrio de gênero na política apresentam avanços
significativos em áreas como igualdade salarial, combate à violência doméstica
e acesso a direitos básicos. Isso reforça a importância de incentivar a
participação feminina em todas as esferas de poder.
Para
mudar esse cenário, é essencial que haja um esforço coletivo, tanto do governo
quanto da sociedade. Medidas como o fortalecimento das políticas de cotas, o
combate à violência política e a criação de programas de incentivo para
mulheres que desejam ingressar na política são fundamentais. Além disso, é
preciso desconstruir a ideia de que a política é um espaço masculino,
estimulando desde cedo o engajamento feminino nesse meio.
A
luta por mais mulheres na política não é apenas uma questão de
representatividade simbólica, mas sim de justiça social e fortalecimento da
democracia. Quando há mais diversidade nos espaços de decisão, as políticas
públicas tendem a ser mais inclusivas e eficazes. Garantir que as mulheres
tenham voz e poder na política é um passo fundamental para construir uma
sociedade mais igualitária, onde todos, independentemente do gênero, possam
participar ativamente das decisões que moldam o futuro do país.
A
importância da representação feminina na política também pode ser analisada a
partir das ideias de diversos pensadores e teóricos da filosofia, sociologia e
ciência política. John Stuart Mill foi um dos primeiros pensadores liberais a
defender a participação das mulheres na política. Em sua obra A Sujeição das
Mulheres (1869), ele argumenta que a exclusão feminina dos espaços de poder não
tem base racional e prejudica o desenvolvimento da sociedade. Para Mill, a
igualdade de direitos políticos era essencial para o progresso social, pois
mulheres e homens deveriam ter as mesmas oportunidades de influenciar decisões
públicas.
Em
O Segundo Sexo (1949), Simone de Beauvoir analisa como as mulheres foram
historicamente colocadas em uma posição de submissão, o que também se reflete
na política. Segundo ela, a falta de representatividade feminina nos espaços de
poder perpetua a ideia de que a política é um campo masculino. Para combater
essa desigualdade, seria necessário romper com os papéis de gênero impostos
pela sociedade e garantir que as mulheres tenham condições reais de
participação.
Hannah
Arendt defendia que a política deve ser um espaço plural, onde diferentes vozes
possam se manifestar. Em A Condição Humana (1958), ela destaca a importância da
ação e do discurso público para a construção de uma sociedade democrática.
Aplicando essa visão à questão da representatividade feminina, pode-se afirmar
que a ausência das mulheres na política enfraquece a democracia, pois limita a
diversidade de perspectivas necessárias para a tomada de decisões justas.
Judith
Butler, em Problemas de Gênero (1990), questiona a construção social do gênero
e como isso influencia as relações de poder. Para ela, a política reflete e
reforça normas de gênero que excluem as mulheres e outras minorias. A
representatividade feminina, segundo essa visão, não é apenas uma questão de
número, mas de transformar a forma como a política é feita, desafiando
estruturas que tradicionalmente favorecem os homens.
Pierre
Bourdieu, em A Dominação Masculina (1998), explica como as mulheres são
excluídas dos espaços de poder devido a um sistema simbólico que naturaliza
essa exclusão. Ele argumenta que o domínio masculino na política é resultado de
uma construção social que precisa ser desconstruída para que as mulheres possam
exercer plenamente sua cidadania e influência nas decisões políticas.
Assim,
a representação feminina na política não é apenas uma questão de justiça
social, mas uma condição essencial para a construção de uma sociedade mais
democrática, inclusiva e equitativa.
Ronaldo
Castilho é jornalista e bacharel em Teologia e Ciência Política, com MBA em
Gestão Pública com Ênfase em Cidades Inteligentes