Tocando Agora: ...

Coluna: "Entre Aspas" com Ronaldo Castilho

Publicada em: 12/02/2025 11:58 - Colunas

Cenário Econômico Desafiador

 

Ronaldo Castilho

 

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa Selic em mais um ponto percentual, alcançando 13,25% ao ano, reflete um cenário econômico desafiador que demanda medidas duras para conter a inflação. No entanto, esse movimento, embora justificado pelo compromisso de convergência da inflação à meta, gera consequências preocupantes para a economia real e para a população brasileira.

A elevação da Selic, que já se aproxima dos patamares observados durante a crise econômica do governo Dilma Rousseff, pode ser vista como um indicativo de que a economia brasileira enfrenta dificuldades persistentes no controle inflacionário. O Copom deixa claro que novos aumentos poderão ocorrer caso o cenário inflacionário não melhore, o que reforça a política monetária restritiva como principal ferramenta de combate à alta de preços. No entanto, essa estratégia apresenta efeitos colaterais que não podem ser ignorados.

Taxas de juros elevadas encarecem o crédito para empresas e consumidores, reduzindo o consumo e o investimento. Pequenos empresários e famílias endividadas são os primeiros a sentir os impactos negativos dessa política, enfrentando dificuldades para manter seus negócios e honrar compromissos financeiros. O encarecimento do crédito também desestimula o investimento produtivo, o que pode comprometer a geração de empregos e o crescimento econômico no médio e longo prazo.

Além disso, um ambiente de juros elevados agrava a desigualdade social ao beneficiar rentistas e investidores em detrimento da população mais vulnerável. Aqueles que possuem capital disponível para investimentos se favorecem de retornos mais altos em aplicações financeiras, enquanto trabalhadores e empresários de menor porte sofrem com o encarecimento do custo do dinheiro e a retração da atividade econômica.

O Brasil já convive há anos com um dilema econômico recorrente: a necessidade de combater a inflação sem sufocar o crescimento. Embora o Banco Central tenha autonomia para conduzir a política monetária, é essencial que essa estratégia seja acompanhada de políticas fiscais e estruturais que estimulem a produtividade e a competitividade do país. Sem um plano consistente para destravar o crescimento econômico, a manutenção de juros elevados pode se tornar um obstáculo ao desenvolvimento, prolongando um ciclo de estagnação e dificuldades para a população.

A decisão do Copom reflete a necessidade de disciplina no controle da inflação, mas reforça um modelo de política monetária que, historicamente, tem penalizado o crescimento econômico e a inclusão social. Para que o Brasil encontre um caminho sustentável, é fundamental que medidas complementares sejam adotadas, visando a um equilíbrio entre estabilidade de preços e estímulo à atividade econômica. Caso contrário, o país poderá reviver um cenário de baixo crescimento e desemprego elevado, semelhante ao que marcou períodos de crise no passado.

Os desafios da economia têm sido tema central para diversos pensadores ao longo da história, cada um oferecendo perspectivas distintas conforme o contexto de sua época. Alguns dos principais economistas e filósofos refletem sobre as dificuldades do crescimento econômico, do equilíbrio entre oferta e demanda, da desigualdade social e da intervenção estatal.

Adam Smith, considerado o pai da economia moderna, argumentava que o mercado se autorregula por meio da "mão invisível", defendendo que a busca pelo interesse individual resulta, de maneira indireta, no bem-estar coletivo. No entanto, reconhecia a necessidade de certas regras para evitar monopólios e garantir a justiça social.

Karl Marx, por outro lado, criticava o modelo capitalista, afirmando que ele gera desigualdade ao concentrar riquezas nas mãos de poucos enquanto a classe trabalhadora sofre com baixos salários e precarização. Ele via a luta de classes como um elemento central para transformar a economia.

John Maynard Keynes trouxe contribuições importantes ao sugerir que o Estado deve intervir na economia para estimular o crescimento e evitar recessões. Para ele, momentos de crise exigem aumento dos gastos públicos para impulsionar o consumo e o investimento.

Joseph Schumpeter destacou a importância da inovação e do empreendedorismo no crescimento econômico, mas também alertou para os ciclos de destruição criativa, em que novas tecnologias substituem antigas, gerando impactos sociais e estruturais.

Mais recentemente, Amartya Sen trouxe uma abordagem que relaciona economia e desenvolvimento humano, enfatizando que o crescimento econômico deve ser acompanhado de melhorias em saúde, educação e liberdade individual para garantir o verdadeiro progresso social.

Assim, os desafios econômicos são amplamente debatidos e cada pensador propõe soluções diferentes. Enquanto alguns defendem a liberdade de mercado, outros alertam para os riscos da desigualdade e da falta de planejamento. O debate continua relevante, especialmente em tempos de crise e incertezas globais.

Ronaldo Castilho é jornalista, bacharel em Teologia e Ciência Política com MBA em Gestão Pública com Ênfase em Cidades Inteligentes

Compartilhe:
COMENTÁRIOS
Comentário enviado com sucesso!
Carregando...