Por Adriana Passari - @adrianapassari
Lola
Lola saia de casa todos os dias pela manhã a caminho do trabalho. Era uma moça comum à primeira vista, mas bastava um olhar mais atento, uns poucos minutos de conversa e ela conquistava a todos com seu carisma. Era uma moça autêntica, determinada e de uma simpatia poucas vezes vista naquela vizinhança. Era conhecida e querida por todos, quer dizer quase todos. Sempre tem um ou outro que não vai com a cara da gente, isso é normal na vida de todo mundo, e também era na vida de Lola.
Na rua de baixo da venda onde ela passava sempre ao fim do dia, voltando do trabalho, moravam umas moças meio enjoadas. Ela pegaram birra de Lola porque uma vez a Lola deu bronca na criançada que estava tirando sarro de um senhor maltrapilho, cheirando a pinga, que estava tentando se equilibrar em pé, enquanto quase se arrastava, após ser flagrado por eles tirando um cochilo no banco da praça.
As moças também não queriam saber de um pinguço rondando pelo bairro e acharam que as crianças estavam dando um belo castigo naquele estranho. Para elas, a Lola fazia essas coisas só pra chamar a atenção do filho do dono da venda, que era o jovem solteiro mais cobiçado do momento. Mas Lola, não estava interessada em namoro.
Imagem criada por IA
Ela só queria mesmo é sossego. Só arrumava tempo para trabalhar, estudar e ajudar a família. Um dia Lola foi embora. Todo mundo no bairro sentiu sua falta. Quer dizer, nem todo mundo.
As moças da rua de baixo da venda deram com os ombros em desdém, quando souberam que Lola passou em primeiro lugar no concurso do fórum da cidade vizinha. Agora Lola tinha um cargo importante, um salário invejável e vez ou outra voltava pra ver a família e os amigos. Passava na venda pra comprar doce de leite só pra matar as saudades de todos, quer dizer, de quase todos.
Ouça a história na voz de Adriana Passari: